Replay?

Eles se conheceram em um entardecer de Los Angeles, em um parque. Ela estava lendo um livro na árvore do  ponto mais alto do lugar, onde se encontrava a mais bela vista da cidade. Ele estava no mesmo parque, andando por aí sem rumo, tomando um Starbucks com os fones de ouvido a tocar uma música qualquer. Los Angeles é conhecida por ser a cidade dos anjos, dos sonhos de das realizações. Os dois não acreditavam nisso – não mais, sabe-se lá porquê. Os amigos dizem que eles cansaram de procurar alguma coisa. Durante o pôr do sol, ele tropeçou nos pés dela, tão distraída estava com a história do livro que nem sentiu o que aconteceu. Ele aproveitou para sentar e admirar a paisagem, sem se importar que caíra nos pés de uma moça desconhecida. Alguns minutos depois, ela terminou o último capítulo, deu um suspiro longo e fechou o livro. Se assustou ao ver um rapaz que  nunca viu na vida ao lado dela, observando aquela maravilhosa paisagem com um olhar distante.
- A vista aqui é maravilhosa durante a noite, não é? – ela perguntou.
- É aqui que venho durante os dias de muitos problemas. Me esqueço de tudo e relaxo. Sequer me lembro dos meus passados e presentes. É realmente encantador...
- É, você tem razão. Nem parece que estamos em Los Angeles. Prazer,  me chamo Victoria.
- Maravilhoso nome. Me chamo Henrique.
Trocaram telefone e em menos de um mês um já sabia tudo sobre o outro. Eram, respectivamente, melhores amigos. Tudo bem clichê, e os dois odiavam isso.
O que cada um fazia em LA? Ele pretendia ser músico e ator, estava cursando para entrar na Juilliard School. Ela resolveu fazer uma viagem sozinha depois da separação dos pais. Os amigos comentavam que eles se gostavam mas não queriam admitir. Os dois tinham quase que o mesmo jeito, os mesmos conceitos de vida. A amizade entrou em crise e alguns anos se passaram. Victoria virou uma escritora famosa e mundialmente reconhecida. Henrique realizou seu sonho de ser músico e ator, e era vocalista da melhor banda do mundo. Sua única dúvida era se a sua melhor amiga durante toda aquela vida solitária era fã dele. E ela era. Participava de todos os shows, sabia todas as músicas. Sempre ia esperançosa em que ele visse seu rosto em meio à multidão de fãs e a chamasse para cantar aquela canção do dia em que se conheceram, que ele compôs e agora estava oficializada na banda. Nenhum esquecera o outro, nenhum momento vivido pelos dois fora esquecido, principalmente os shows. Ah, os shows. Eram sempre os dias mais felizes deles; riam, cantavam, gritavam e dançavam juntos. Mesmo afastados. Mesmo com todo o arrependimento que era sentido por não ter admitido o suposto amor de cotidianos clichês que até o irmão do amigo comentava. Um dia, em uma dos ensaios da banda de Henrique, ele recebera a pior notícia da sua vida. Em uma carta. Depois de ler e a reconhecer, com aquela letra garranchuda de escritoras teimosas, ele se ajoelhou e começou a chorar. O maior dos desesperos de toda a vida dele estava surgindo ali. Victoria, a seu ver, tomara a decisão que provavelmente os dois ou somente ele, mais temiam: ela iria se casar. E ela estava convidando ele para a festa de noivado. Henrique estava em pânico total. Seu irmão tentava acalmá-lo, mas o rapaz estava enlouquecendo: como ele foi capaz de se atrasar tanto, como ele conseguiu perder a mulher da sua vida? A garota que era as luzes do seu dia e as estrelas da sua noite parecia ter encontrado outro. Ele se irritava ainda mais com essa situação tão clichê. Pegou o carro e foi correndo até a casa dela, sem se importar com a sequência de sinaleiros vermelhos que agora pareciam brotar do chão para impedi-lo. Como se era de esperar, o carro de Henrique derrapou e bateu em uns cinco postes seguidos.  Henrique sofreu uma “leve” concussão  e ficou dormindo por dois dias. Quando ele acordou, Victoria, que estava do seu lado, começou a falar desesperadamente, enchendo-o carinhos.
- Meu Deus, Henrique. Larguei tudo e todos para cuidar de você. Quando Pietro me avisou do acidente, a minha vida se passou diante dos meus olhos e percebi o maldito erro que cometi. Espero que você esteja disposto a me perdoar.  Eu terminei com meu noivo, Henrique. Tem dois dias que você estava em coma. Ainda dá  tempo de tomarmos o tempo perdido, não é mesmo?
- Ahn... que tempo perdido? E quem é você?  - Henrique respondeu.
Victoria começou a chorar, chorar muito. Tudo foi apagado da memória dele com aquele acidente? Era isso que ele queria mesmo? Se esquecer de vez dela? Na verdade, meus leitores, mantenham a calma, pois ela apenas  se esqueceu do péssimo sarcasmo disfarçado de desespero do Henrique, que se levantou e a abraçou.
- Você disse que ainda podemos recuperar o tempo perdido, pois somos jovens. Você me é familiar. Que tal começarmos tudo de novo, desde o primeiro minuto em que nos conhecemos?  Só sei que será um pouco diferente.
- Eu aceito, Henrique. Eu aceito te amar mais uma vez. Ainda tenho muito a aprender com você.  Sempre te acompanhei em todos os shows e em todas as letras das músicas. E é por aí que vamos começar.

                                                                        

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