Postagens

Mostrando postagens de 2025

FRUSTRAÇÃO

  O último souvenir que Amor me enviou estava recheado de incerteza, falsa esperança, autoilusão e autoencantamento (que eu chamaria também de negação) de quem ainda não sabe aceitar que deve (mas tenta) buscar solitariamente a própria salvação. Abri esse souvenir com uma boa dose de medo e desconfiança, e, torcendo para estar enganada, o coloquei num cantinho seguro de uma estante. Merecia ele um pseudoaltar, ou era melhor ter enviado de volta ao remetente?  "Bom, vejamos quanto tempo esse souvenir dura. Ele é lindo, mas algumas coisas não combinam tanto com o resto da decoração. Está com muita fuligem e pó branco, mas nada que uma boa limpeza não resolva. A antiga dona não devia cuidar muito bem dele. É bem moderninho e atemporal ao mesmo tempo - se você quiser colecioná-lo, pode encomendar mini bibelôs parecidos com ele. Até que esse souvenir me renderia boas conversas em reuniões de família e de amigos." Sempre que eu o verificava, ele estava numa posição diferente. Era...

PERIGO

Imagem
O rapto de Proserpina, de Bernini ~  Disse uma vez ao Amor "Não me procure nunca mais"  E assim por um tempo obedecera   a razão do meu dissabor  Banido estava por razões sentimentais O infortúnio é que Amor jamais me esquecera Sente saudades, está sempre à espreita Envia-me souvenirs recheados de suspeita Doces lembretes de que está voltando Trapilíssima, sigo caminhando É que fujo dele e também de mim de suas promessas vazias e do meu desejo sem fim um dia tudo sempre se acaba restando eu, o coração e o nada Não sei que diabos Amor quer comigo É inegável que ele é irresistível Mas com ele, clareza e certeza é impossível E a ausência dessas, um eterno castigo Sei que disse "não lhe quero nunca mais" está sinalizado como possível perigo Mas confesso, admito:  viver sem ele também é algo que não se faz.

PRINCESA, parte um

Imagem
Auguste Toulmouche  (French, 1829-1890),  The Hesitant Fiancée , 1866. Oil on canvas. Prisioneira do meu próprio castelo, nascida e criada para viver sozinha, proibida de viver qualquer gesto singelo Condenada à desconfiança eterna,  ninguém pode atravessar os portões desta prisão. Sou indigna de ter uma paixão, quebraram as minhas pernas. Sou uma flor proibida, nunca cheirada, nunca sentida,  sob esta gaiola de ferro, apenas vista. Aqui, esta princesa sequer se arrisca.  Não tenho tranças para jogar,  nem asas para voar, ou um tapete voador Felicidade? Só sente dor... Essa princesa, aqui, não tem vida apenas existe por si só, observando chegadas e partidas,  planejando evitar voltar ao pó No castelo, mesmo presa inúmeros erros comete a princesa e ela se frustra, e ela é punida,  e nenhuma confiança a ela é cedida. A princesa sabe que não existe príncipe nem ogro, nem sapo, nem rei que possam salvá-la nos termos da lei Cai o pano. É jogada a toalh...