RANCOR E DESPREZO - ou a salvação?

leitores (pois não sei quem me lê e se são ou não os mesmos),

já fazem seis meses desde a desgraça acometida. hoje fui profunda e terrivelmente afetada por ela novamente, em questão de horas, mas eis-me aqui. resoluta e recomposta. realmente a vingança é um prato que se come frio, e que vem quando a intuição se aflora. não conheço ninguém tão rancorosa como eu: trair-me é um perigo. cuidado com a bruxa boa... cuidado com aquela que fica muito calada. a pior maldição é aquela lançada pelo verdadeiro romântico: só nos livramos dela depois que o respeitamos verdadeiramente e pedimos desculpas sinceras.

"calada vence", dizem por aí. e como vence! e que bom que quem me acolheu estava certo! e que bom que tive um livramento! e que bom...!

já sabem que gosto de passar recados públicos. nunca me arrependi de nenhum deles - pois sentir é bom e também sou humana, ao contrário do desgraçado. sem o devido respeito, já que ele não me deu - e vim deixar mais um. Com a devida liberdade poética, tive de começá-lo em espanhol - descobri que é o meu idioma do ódio e da vingança. e que delícia: 


Gracias por el fuego que me diste quando pensé que me amabas,

 gracias por el fuego que me das ahora que te odio e te quiero muerto!

Yo soy la ganadora, yo soy la que verdaderamente sobrevivió, mi moral es mucho más valorosa,

y tú eres meramente un cobarde, un animal irracional disfrazado de hombre.

Tú no merezces nadie en tu vida y nadie podrá salvarte, aquí está la maldición tuya.

Tengo rabia, y con razón, y esta rabia luego se convertirá en desprecio. Que tú vas à mierda.

Y a mis amigos, gracias por me acompañaren por este camiñar flamejante.


Se ainda sinto amor? Sinto amor pelo que aprendi como consequência de uma escolha inconsciente. Sinto amor pelo passado - mas não o romantizo, apenas o esclareço, romantizar é pedir para sofrer mais, e me recuso a sofrer novamente, ele foi a gota d'água. Mas pelo mal-caratismo (pois o que houve não foi uma simples incompatibilidade de caráter, de personalidade) desfraldado, pela covardia, pelo egocentrismo, pela falta de honra com a própria alma que os pais fizeram descer dos céus, isso não sinto. Ele é mais insignificante e ignorante do que um inseto que tento retirar sem matar. Ele é puro desperdício de oxigênio. Já fui empática e compreensiva por tempo demais. Existir é mera obrigação, eu venho dizendo, mas existir dignamente pelo menos para si mesmo ele é incapaz. E que bom que disso nunca [mais] farei parte. Ele não merecia um tracejado de lápis sequer que gastei com ele.

Como disse Clarice Lispector (nunca me cansarei de repetir): Trapilíssima avante sine qua non masioty - ai de nós e você.

Ou como eu traduzo: Sigo em trapos, sem dispensar a calmaria - que pena!

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