NÃO-EXISTÊNCIA
sinto-me como se não devesse existir
como um fardo
sinto que deveria ser outra pessoa
e penso no que deve ser feito para eu ser essa outra
ao mesmo tempo sinto que não deveria mudar
que não é preciso deixar de ser quem sou
sumir e esvair do meu ambiente de existência
não mereço viver o que tenho pra viver
pois sou um fardo.
não consigo mudar quem sou eu
e tampouco consigo debulhar em lágrimas todas essas feridas internas que se acumulam, se multiplicam e sangram todos os dias
meu único momento de estancamento açucarado
é quando estou nos braços dele
e aquele cheiro a princípio tão insignificante é a minha cura momentânea e viciosa
para essa minha dor de existir
eu me odeio, mas eu me amo mais quando estou com ele
e me odeio mais ainda por ter esse vício em querer fugir de mim mesma,
em esquecer quem sou e por que existo
quero um dia parar de ter medo e tremer tanto por tentar viver sendo eu mesma
sou proibida de tal tentativa
porque tanto me protegem que prefiro morrer, isto é, sumir
do que ficar presa numa torre invisível que nunca me deu qualquer ensinamento de independência
apenas me exigiram que eu já soubesse
e tentar sozinha quando não sei de nada e jogam isso na minha cara todos os dias
é profundamente assustador
quero parar de ter medo de voltar tarde pra casa
sem saber se o que me espera é um abraço ou um tapa
quero voltar e encontrar quem esteja feliz por eu ter aproveitado meu dia e ter vivido uma porcentagem da minha própria vida
sem me sentir culpada por ter a mim mesma
brevemente não terei onde cair morta
e isso me assusta tanto quanto não ter onde cair em prantos
minha existência é constante submissão a uma roda de expectativas em que me falta coragem para admitir que jamais serei assim
que sou eternamente um fardo
incapaz de fugir desse ciclo torturante e salvar a mim mesma
hoje estou morta por dentro
afogada em lágrimas que nunca tiveram autorização para sair
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