Sonhar em voz alta
Ela era a moça mais bonita da cidade. Tinha os cabelos esvoaçantes e não era muito de sorrir. Na verdade, era também a mulher mais marrenta que alguém podia conhecer, sabe? Ninguém sabia se ela sentia felicidade, pois ela conquistou muitas coisas na vida. Tinha um belo salário, se divertia quando queria, visitava a família. Essas coisas que todos comentavam e que qualquer um descobre fácil. Mas ninguém nunca a vira soltar uma risada na rua ou em qualquer outro lugar, a não ser que ela só fizesse essa proeza em privacidade. Alguns diziam que ela era muito fechada, sabe, meu senhor? Eu acho que aconteceu alguma fatalidade na vida dela para ela ser assim. É tão jovem, só tem vinte e um anos, coberta de couro e ouro. Eu a conheci em mais um típico esbarrão que o destino gera, e ela não parecia estar muito bem. Ajudei-a recolher suas coisas que tinham caído no chão, e me surpreendi: eram livros, acho que sete. Dois eram de romance. Quatro, falavam sobre viver. Um, o último que eu peguei, e...