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SOBRE ESTAR DE LUTO EM VIDA

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não sou mais quem eu era há dois anos atrás. e odeio profunda e amargamente essa minha versão. quero matá-la, mas ela é minha sombra - e ao contrário do filme animado do Peter Pan, em que a sombra dele foge de seu dono, a minha me persegue. não consigo fugir dela. e é extremamente difícil aguentá-la quando ninguém mais a vê, pelo menos não do jeito que eu a vejo. estou cansada de soluções racionais. passei a vida inteira sendo racional, e é cansativo e exaustivo estar sempre engolindo o choro para tentar fugir do que sinto. sentir por si só já um fardo terrível quando você se acostuma a reprimir suas emoções por medo de chegar a um estágio pior do que o em que já está. me odeio com tanta intensidade que parece que ninguém mais se lembra de mim. mas quem lembraria? hoje está cada um preocupado com a sua própria sombra, seja ela um monstro ou não.  estou de luto em vida porque papai desenvolveu Alzheimer. e é devastador ver todos os dias que ele não consegue mais ser o homem que eu conhe

NÃO-EXISTÊNCIA

 sinto-me como se não devesse existir como um fardo sinto que deveria ser outra pessoa e penso no que deve ser feito para eu ser essa outra ao mesmo tempo sinto que não deveria mudar que não é preciso deixar de ser quem sou sumir e esvair do meu ambiente de existência  não mereço viver o que tenho pra viver pois sou um fardo. não consigo mudar quem sou eu e tampouco consigo debulhar em lágrimas todas essas feridas internas que se acumulam, se multiplicam e sangram todos os dias meu único momento de estancamento açucarado é quando estou nos braços dele e aquele cheiro a princípio tão insignificante é a minha cura momentânea e viciosa para essa minha dor de existir eu me odeio, mas eu me amo mais quando estou com ele e me odeio mais ainda por ter esse vício em querer fugir de mim mesma, em esquecer quem sou e por que existo quero um dia parar de ter medo e tremer tanto por tentar viver sendo eu mesma sou proibida de tal tentativa porque tanto me protegem que prefiro morrer, isto é, sumir

FLIRTATION

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Eros & Psique - Antonio Canova  What is that witchcraft of yours that makes me think about you as soon as I wake up until I fall asleep? Twenty miles away is what divide us but that distance is the one thing that makes me crave being with you now; Why and how did you choose me to be the target of your arrows, these heart-shaped arms that send me attention and affection just because I am the subject of your mind?  I beg you to make me feel more of it, longer and stronger, for I want to be with you and give my heart away to such tender passion, this strange addiction of giving and receiving in a pure and worthy way; I swear I’m trying not to think this is all fun and games, a lie, because from a broken heart there is nothing else to get But sadness and disappointment  And as a queen of disappointments I wish to throw my crown away and dive into your waters, Which,  I’m sure, are a nice place to surrender [in your arms].

TO A LOVER

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Forget-me-not flowers. Source: unknown, Pinterest Oh, to touch that skin of yours and feel the excitement and electricity of meeting someone new. Getting to know you bit by bit, twenty miles away from me  —  such an amazing discovery. Wondering if it's all fun and games, Reason warns me: the attitude, my dear, it never lies. There is a blur in my mind whenever I'm talking to you as if I can't do nothing else but learn more about this life of yours and share mine. Fear and discouragement, still on the way, saying: "do it not, for it'll go wrong again. Life's a box full of disappointments and we need not another for our collection." I try not to raise expectations as my heart is imprisioned, once again, for fantasizing excessively.  Protective measures, you see. But I go on, still; I crave you. To start feeling deared, and loved, and cared for by other than not your family and friends is such a miracle that it seems a lie:  A lie I want not to end, for I wan

PANDEMIC

Today was hard to breathe. The air, light and clean, My toughts, heavy and unwilling to leave. What to study first it's difficult to mend. Chest hurts. Can't even outburst my heart's content. No wonder I need to go  back to therapy. The daylight is scary, but wish it to never end. The night has come  and so has anxiety. Sudden relief. Quietness, dark's bequeath. A strong desire: to live,  to study, to paint,  and to breathe. And then there's guilt Guilt for not taking care (But I am trying, I swear) of a future spilt.

AINDA NÃO CONSIGO OLHAR PARA SUA MESA VAZIA

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Ao leitor, sugiro ler ouvindo Marchinha Fúnebre, do Rodrigo Alarcon, ou Último Desejo, do Noel Rosa, interpretado por Martinho da Vila. Uma semana sem ele. Só se passaram sete dias, mas às vezes parecem anos e, no pior dos corações, é como se tivesse sido ontem. Sempre vai parecer que foi ontem. Falo como se ele tivesse falecido. E de certa forma, morreu. A presença dele era marcante em cada segundo do meu dia. Pensava ter finalmente encontrado alguém, mas na verdade o que veio foi a certeza de que “alguém” não existe. Ele deixou de se sentar ao meu lado. Ainda não consigo entrar na sala e notar a carteira vazia. Parte de mim adentra a sala na esperança de que ele irá voltar para o lado de cá. Tudo se tornou um borrão – e a única coisa relevante é a voz da professora de Latim. De que adianta olhá-la se não terei com quem rir silenciosamente das piadas? É que ele – vamos chamá-lo de X – me proporcionou tantos momentos bons, que o fato de não acontecerem nova e rotineirame

A SECA QUE SECA

A fadiga da vida se acentua com a chegada da seca. Geográfica ou psicológica, é o esvaecer daquilo de mais precioso e vital à existência humana: a água – e o amor. Água, vide o sofrimento no sertão. Amor, vide o que Lispector diz sobre ele ser “a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio por isso não envaidece”. De tempos em tempos, o homem, cansado e sedento, põe na mão do universo a mais incerta das decisões: ter de volta a sua fonte de sensatez, pois água e amor são puros sinais de sobriedade. A consciência de estar vivo, atrelada a uma animadora certeza do porquê continuar a viver – eis aí o fim e o começo da assustadora seca que seca. Essa estiagem, antes tão natural e imperceptível, deixou de ser cíclica e perdeu seu controle por mero descuidado humano. Sua inquebrantável presença absorve, agressivamente, as variáveis da água e do amor: tudo que há de bom no mundo perde o significado, e ao homem resta apenas frustração e desejo. Sem água o mundo se exting